sábado, 17 de maio de 2025

Resenha Literária: O Argonauta de Si Mesmo – F. Gerson Meneses e a viagem interior do poeta


Em O Argonauta de Si Mesmo, o poeta piauiense F. Gerson Meneses convida o leitor a lançar-se em uma travessia poética profundamente pessoal e universal. Inspirado na figura mitológica dos argonautas — os navegadores da embarcação Argo, liderados por Jasão na busca pelo Velocino de Ouro — Meneses assume o leme de uma jornada interior, onde o oceano é o próprio eu, e os poemas, as ilhas, vulcões e tempestades do inconsciente.

Após o sucesso de Versos Retos de um Poeta Torto (2018), o autor volta mais maduro, mais afiado, mais visceral. Se a obra anterior já revelava um poeta de grande domínio da linguagem, aqui ele expande seus horizontes, compondo 58 poemas distribuídos em cinco capítulos: Devaneando, Natureza, Encontros, Vida e Ensaio de Cordel. São seções que, como mapas náuticos, conduzem o leitor por experiências sensoriais, filosóficas e afetivas que vão do concreto ao onírico.

A beleza plástica da obra, com arte de capa simbólica (um homem a pensar em sua embarcação solitária) e ilustrações de Jason Fontenele, reforça o tom reflexivo que permeia os versos. O prefácio, assinado por Claucio Ciarlini, escritor e historiador, aponta com precisão a força do livro: sua capacidade de provocar, comover e transformar, mantendo viva a chama crítica frente aos absurdos políticos e sociais dos últimos anos — um eco contemporâneo do que fez Carlos Drummond de Andrade em A Rosa do Povo.

Meneses homenageia paisagens, escancara memórias, fala de amor mesmo quando há dor, e nunca esquece o torrão natal — como fez Da Costa e Silva ao cantar o Piauí. Sua escrita, por vezes romântica, por vezes concreta, nunca se aparta da emoção verdadeira. A poesia aqui é resiliência, é cicatriz e também sopro de esperança. É, como escreveu Octavio Paz, “um ato vital”.

O Argonauta de Si Mesmo não é apenas um livro: é um chamado. Uma viagem que, ao término, nos faz perceber que o maior destino da poesia é o encontro com aquilo que ainda pulsa em nós — mesmo quando o mar está revolto.

SILVA, Marcello. 2025

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