Mais do que uma reunião de textos, trata-se de um gesto político e poético: reunir autoras e autores de diferentes territórios e identidades para ecoarem, juntos, o que por muito tempo foi silenciado. Tal como nos versos de Torquato Neto — “a memória que suja a história que enferruja o que passou” —, essas vozes reconfiguram o passado e propõem novos significados ao presente, tornando o poema não um refúgio, mas uma intervenção no real.
Cada coletânea carrega o frescor e a densidade de narrativas poéticas que se entrelaçam, explorando temas como ancestralidade, pertencimento, resistência feminina, desigualdade social e a poética dos rios e das margens. São vozes que, como as de Torquato, H. Dobal ou Da Costa e Silva, não pedem licença para existir — ocupam, denunciam, encantam.
A pluralidade de estilos, que vai do verso livre ao metrificado, da prosa poética ao lirismo narrativo, revela não apenas a riqueza criativa do Piauí, mas a maturidade de um projeto literário que sabe ouvir e oferecer escuta. A força dessa coleção também reside na sua acessibilidade: exemplares distribuídos gratuitamente aos autores, escolas e às bibliotecas, num gesto de partilha que rompe com o elitismo editorial e insere a literatura no cotidiano das comunidades.
Aprovado pelo SIEC e patrocinado pelo Armazém Paraíba, o projeto destaca a urgência de se manter e ampliar os incentivos públicos à cultura. Sem tais políticas, muitas dessas vozes permaneceriam à margem. Vozes do Piauí mostra que a literatura, quando nasce do coletivo, é capaz de reinventar a memória, ampliar o pertencimento e transformar o silêncio em canto.
SILVA, Marcello. 2025
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