sexta-feira, 6 de julho de 2018

Homo Cactus - por Pádua Marques

Me pego lendo Homo Cactus, livro de contos de Marcello Silva. E vejo que as coisas estão mudando pra estas bandas da coroa do norte do Piauí, da serra da Ibiapaba e na nossa literatura. Já não existem mais fronteiras e obstáculos entre o lado de cá e o de lá. Sem querer ficar remoendo o tempo passado e a velhice que vem se aproximando na ponta dos pés, no meu tempo era difícil ver e ler coisas novas e descobrir novos escritores um dia após outro.

A gente por mais que tentasse acabava caindo nos clássicos universais e nos medalhões da literatura brasileira, Machado de Assis, Fagundes Varela, Bilac, Coelho Neto, Humberto de Campos, esse último para nos aproximar com as particularidades de nossa terra. Mas gente nova mesmo, quando chegava, era sempre difícil de ser assimilada. Mas os tempos são outros e há uma gente boa e nova construindo pontes entre as culturas sem dar importância às dificuldades.

Certo dia me deparei com o livro O Pescador, de um rapaz nascido e criado no Chaval, Marcello Silva. Li e reli o livro dele de ponta a ponta e cá comigo calculei o pulo que ele um dia iria dar. Entre poesias e crônicas ele falava de sua terra e de sua gente, seus costumes, a infância boa no meio de riachos, praias, lagoas, a casa da avó e essas tantas coisas boas que nos passam pela vida. Apurei a leitura e descobri um escritor em crescimento. E ele não estava só e nem me decepcionou. Havia mais e mais outros iguais a ele.

Parece, desculpem a comparação, que estavam eles iguais brinquedos raros e peças de arte do Oriente, guardados numa caixa e que uma mão inquieta um dia iria abrir. Esta geração está prometendo e já está fazendo muito e mais rápido. São mais unidos e alegres que a minha geração. Podem unir a música à poesia, a crônica ao teatro, o conto ao cinema e tudo vai dando certo e ficando bonito igual às rendas e os bordados das mulheres do Ceará.

Mas falando em Homo Cactus, o autor Marcello Silva está no seu melhor momento. Nesta obra está toda a sua terra, seus costumes, medos, brinquedos, lembranças, os pais e os irmãos, sua primeira escola, as ruas de sua cidade, as conversas e as superstições. Bonito de ler a rudeza dos diálogos, a descrição dos homens e das suas igrejas e casas. É bonito e gratificante ler uma obra igual a esta. E a gente acaba viajando entre os contos, seus títulos, frases e as letras, por entre as veredas que ninguém nunca imagina onde vão chegar.


*Antonio de Pádua Marques Silva, da Academia Parnaibana de Letras.

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