Poemas Ébrios, do parnaibano Sousa Filho, é uma obra de travessias — de estilos, de vozes, de estados da alma. Com 139 páginas e publicação independente em 2024, o livro revela um poeta de múltiplos registros e intenções, que transita com naturalidade entre o lirismo apaixonado, o tom elegíaco, a sátira política e o existencialismo inquieto. Uma poesia que, mesmo ébria, sabe muito bem onde pisa.
O título da obra já antecipa sua essência: poemas gestados sob a influência simbólica (e literal) do álcool, mas que não se perdem na embriaguez — antes, encontram nela uma lente para enxergar o mundo com maior nitidez e emoção. A palavra, aqui, é fermentada no tempo e destilada na sensibilidade. É poesia que flui como vinho velho em taça nova.
Sousa Filho recusa qualquer engessamento estético. Em sua escrita há traços de romantismo, realismo, parnasianismo, simbolismo, modernismo e até concretismo. O poeta desafia as escolas, hibridizando estilos com naturalidade e dando voz a um sujeito lírico que ora filosofa, ora confessa, ora denuncia. A linguagem percorre do erudito ao coloquial, criando um jogo rítmico e expressivo que enlaça leitor e poema num mesmo sopro.
O cordel, raiz importante da tradição nordestina, também marca presença em sua métrica e musicalidade, assim como a crítica social e o amor à terra natal, cantada com orgulho e melancolia. Há poemas fúnebres que tocam fundo, há sátiras que fazem rir e pensar, e há versos que sussurram com uma beleza quase mística. Em tudo, uma entrega sincera do poeta à palavra.
Ler Poemas Ébrios é participar de um banquete poético onde se serve o que há de mais humano: dores, delírios, utopias, perdas, encantamentos. Sousa Filho é um poeta que escreve como quem vive — intensamente. E nos brinda com uma poesia honesta, desassossegada, feita para ser sentida antes de ser rotulada.
SILVA, Marcello. 2025
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