Santiago Pontes, camocinense com alma filosófica e coração marítimo, entrega ao leitor em Concha Marinha uma obra de duplo mergulho: poesia e prosa entrelaçadas por um fio temático que atravessa toda a sua produção — o mar. Depois de Homem do Mar e Oceano de Mim, este livro, publicado de forma independente em 2023, reafirma o elemento marítimo como metáfora existencial, território de reflexão e espelho do eu.
Dividida em duas partes — a primeira dedicada à poesia, a segunda aos contos — Concha Marinha é, desde o título, um convite a escutar o som interno das coisas. A concha, símbolo do que é ao mesmo tempo frágil e profundo, torna-se aqui um objeto poético que guarda não apenas o rumor do oceano, mas também o eco dos dilemas humanos. Santiago escreve como quem recolhe pedaços de vida na areia e os transforma em texto.
A poesia da obra é confessional, filosófica e livre — não presa à rigidez formal, mas ancorada numa busca constante por sentido e beleza. Com linguagem coloquial e afetuosa, Santiago provoca e acolhe, reflete e questiona, oferecendo ao leitor versos que se aproximam como conversa e, ao mesmo tempo, reverberam como pensamento. É uma escrita que não teme os grandes temas — amor, solidão, morte, tempo —, mas os aborda com simplicidade e profundidade, como se cada poema fosse uma âncora lançada ao fundo do ser.
Já na segunda parte, dedicada à prosa, os contos revelam o domínio criativo do autor: há imaginação, fantasia, e uma habilidade peculiar de criar narrativas onde o cotidiano e o insólito se encontram. As histórias transitam entre o real e o fantástico, mantendo viva a provocação filosófica que permeia toda a obra.
Concha Marinha é um livro para ser lido com vagar, como quem caminha pela praia recolhendo o que as marés deixaram. É também um convite a pensar a vida com leveza, mas sem superficialidade — marca dos bons escritores e dos bons filósofos. Santiago Pontes prova, com esta obra, que o mar continua a ser uma fonte inesgotável de perguntas e poesia.
SILVA, Marcello. 2025