Nos anos 70, ainda impregnadas pelo perfume hippie da década
anterior, as pessoas se dispunham a experimentar diversas formas de se
relacionar. Com isso, a gíria "amizade colorida" entrou na moda para se
referir aos amigos que transavam estabelecer qualquer vínculo mais
sério. O termo usado na época soa um tanto antiquado para os dias
atuais, no entanto, fazer sexo com um amigo é algo cada vez mais comum –
e aprovado por especialistas, que veem benefícios na prática.
"Trata-se de uma oportunidade de ter alguém de confiança para trocar
carinhos e desfrutar momentos de intimidade mesmo não estando
namorando", comenta Juliana Bonetti Simão, psicóloga especializada em
sexualidade, de São Paulo (SP).
"Muitos homens e mulheres que viveram a experiência de uma 'amizade
colorida' continuam a ser amigos, mesmo depois que o sexo acabou. Tudo
vai depender de como cada um experimentou essa vivência. Há, inclusive,
quem aprenda a se relacionar melhor em relacionamentos futuros", diz a
sexóloga Carmen Janssen, de Vinhedo (SP), membro da Sociedade Brasileira
de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH).
Porém, assim como
acontece em qualquer relação afetiva, o sexo entre amigos também precisa
ser orientado por algumas regras que devem ser previamente combinadas
pelos dois. O primeiro fundamento é que cada um saiba muito bem o que
esperar desse tipo de arranjo.
"Ambos devem encarar a situação
com maturidade, serem sinceros sobre suas reais intenções e para não
criar expectativas", fala Carmen. "Algumas pessoas, geralmente as
mulheres, não conseguem separar sexo de amor e aceitam a situação porque
têm esperança de a relação se tornar mais séria. E, quando isso não
acontece, elas acabam se frustrando", completa a especialista.
De acordo com Juliana, questões sobre fidelidade e lealdade devem ser
discutidas para que nenhuma atitude das partes machuque o outro e ponha
fim à amizade. É óbvio, entretanto, que os acordos podem se desviar do
caminho.
"Os dois devem ter em mente que há grandes chances de
alguém acabar se envolvendo afetivamente e a outra parte não. Há
possibilidade ainda de as emoções se confundirem e a amizade acabar",
declara a psicóloga.
Na opinião da psicóloga e sexóloga Jussania
Oliveira, de Americana (SP), o "contrato" deve ser firmado de comum
acordo, com as regras bem definidas para evitar mágoas e ressentimentos.
"Se ambos estão disponíveis, sentem atração sexual e aceitam a
possibilidade de ficarem juntos sexualmente na boa, ok. Mas devem estar
atentos quando uma ou mais regras forem quebradas, quando um ou outro
começa a apresentar comportamento de posse, ciúmes ou exige satisfação e
comprometimento. Isso precisa ser sinalizado para que reavaliem a
continuação ou não dos encontros sexuais", explica.
Segundo
Ricardo Desidério, sexólogo e psicoterapeuta de Londrina (PR), não se
trata de um passatempo, um jogo, por mais descompromissada que a relação
pareça.
"Mesmo sem quaisquer intenções, não estamos lidando com
um simples objeto e sim com sensações, desejos, sejam eles ocultos ou
não. O sexo casual pode desencadear uma bela história de amor, mas
também pode acontecer uma única vez e mesmo assim abalar a relação de
amizade", afirma.
Para preservar a amizade, o ideal é apostar na
sinceridade desde o início. Não existe uma receita mágica que sirva
para todo mundo nem garantias, mas viver é fazer escolhas. Ambos devem
lembrar que sexo sem compromisso implica na possibilidade de ambos
encontrarem outros relacionamentos e também de um se apaixonar pelo
outro.
"Quem fica com a consciência pesada é sinal de que não
estava preparado para ter quaisquer intimidades com o amigo. Por isso,
nesse tipo de relacionamento é preciso ter uma visão muito aberta sobre a
situação. Acredito que muitos não estão preparados", fala Desidério.
Quando um dos dois se interessa verdadeiramente por outra pessoa, é
essencial abrir o jogo e se colocar perante essa nova situação,
definindo como acabar a "amizade colorida". Sob essas circunstâncias, há
um dilema: contar ou não ao parceiro que transava com o amigo?
"Não acredito ser producente revelar, uma vez que a convivência irá
continuar e isso poderá constranger ou gerar ciúmes e desconfiança.
Partilhar histórias e experiências anteriores, muitas vezes com riqueza
de detalhes, não irá agregar absolutamente nada, correndo o risco de
comprometer e influenciar negativamente esse novo relacionamento", diz
Jussania.
"O novo amor pode não entender a situação e,
eventualmente, contar tudo prejudicaria sua relação de amizade. O que
aconteceu com você antes de conhecer seu parceiro fixo, quem você
namorou ou ficou é algo pertencente a sua particularidade. O que
realmente importa é o que vocês construirão juntos", fala Desidério.
Fonte: Uol Mulher Por Heloísa Noronha
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