terça-feira, 5 de maio de 2020
Entrevista | Flávia Valois "Caneta de Águia"
Caros amigos leitores, voltamos com nossa série de
entrevistas. E hoje iremos dialogar com Ana Flávia Baetas Valois, 32 anos. É
Advogada. Pós-Graduada em Direito e Processo Civil pela Escola Superior de
Advocacia da OAB – PI. Possui experiência nas áreas Cível, principalmente em
questões contratuais e de responsabilidade civil e, também, nos assuntos
correlacionados ao Direito do Consumidor na seara da Saúde. Autora participante
da antologia "Poesia Livre – ano 2019” da Editora Vivara, com o poema “A
Mulher de Trinta Anos.” Poema este que ganhou destaque na 4ª Edição do Correio
Literário publicado pelo Sesc PI.
Marcello Silva – Primeiramente, me fale um pouco sobre você.
Quem é Flávia Valois?
Flávia Valois -
É uma paraense simples, batalhadora e, que tem um carinho muito especial
por Parnaíba.
Marcello - Me fale sobre sua formação?
Flávia - Sou formada em Direito desde meados de
2010. Atuo de forma autônoma como Advogada especializada em Direito e Processo
Civil tendo experiência, também, no setor administrativo na parte que
correspondente ao setor de RH.
Possuo forte interesse de pesquisa em questões
atreladas ao Direito Médico.
Marcello – Como nasceu seu interesse pela
literatura? E como você começou a escrever?
Flávia - Vou ser bem honesta, o interesse veio
depois que me desprendi da obrigação de ler as coisas do colégio ou que me
indicavam neste ciclo. Veio quando me senti mais livre durante a faculdade para
aproveitar o tempo que me restasse e assim, o usasse para “curtir” algo não
jurídico nas inúmeras esperas das viagens diárias de idas e vindas para a casa,
pois o meu campus de estudo era bem distante.
Marcello - Você sente mais emoção ao escrever qual
gênero (poesia, conto, romance etc.)?
Flávia - Emoção eu sinto escrevendo uma boa crônica!
Embora também já tenha me arriscado a escrever alguns contos.
E a poesia, ah ela é a minha calmaria! Vem sem eu
querer nada, de forma inesperada, diante de qualquer situação. Esteja com o
celular ou com o lápis e o caderninho em mãos. Depois que a escrevo, é
incrível! Me sinto bastante serena.
Já o Romance, admiro quem consegue escrever. Acho
uma proeza ter imaginação para narrativas mais longas que te amarram e conectam
do início ao fim, ainda não consegui. (risos).
Marcello - Como você organiza seu processo criativo:
decide o que vai ser escrito e por onde começar e quais serão as fases?
Flávia - Depende muito. Se tiver em mãos algum
trabalho mais específico, de observar alguma situação ou fato para escrever uma
crônica, aí sim, eu me planejo!
Leio bastante, procuro fontes seguras para montar
algo que prenda a atenção do meu leitor e desperte-lhe o seu senso crítico e,
nessas horas, procuro -dependendo do tema - ser imparcial para deixar a decisão
de quem me ler aguçada, acesa no ato de pensar!
Os contos que escrevi, vieram todos sem pretensão
alguma e, quando me sentei para escreve-los foram rápidos, só parei quando os
finalizei. Digamos que seja um processo menos disciplinado e mais intuitivo.
Atualmente estou na fase de recolher tudo o que já
escrevi de conto e crônica para produzir meu primeiro livro solo que já tem
material pronto, (só faltando fazer revisão e edição) e contará com 5 contos
inéditos e 30 crônicas.
Marcello – Sobre seus trabalhos literários... Fale
um pouco sobre o Projeto “Caneta de Águia”
Flávia - O Projeto Caneta de Águia surgiu como nome
em 2008, sonhei com isso! Só não sabia o que exatamente seria. Como tenho muita
fé em Deus e Jesus Cristo, acredito que ele tenha me preparado esse tempo todo
para amadurecer e, finalmente poder colocar o que penso dos livros que leio, na
rede.
Tem sido um trabalho desafiador e instigante!
Encontrei nesse meio pessoas de todas as idades e de gêneros literários dos
mais variados.
Já tenho parceria com uma escritora nacional de
romance de época; já fiz duas leituras beta de livros que ainda estão para
serem publicados (é ótimo ter esse contato e ler o original do parceiro –
autor) e, estou ao lado da Editora Vargas que desde cedo (desde que tinha
pouquíssimos seguidores) apostou na qualidade da minha escrita e, firmamos uma
parceria de leitura dos seus livros pelos próximos 12 meses.
É um espaço muito característico onde aprendo
bastante com os grandes influencers que sigo e, também, com os meus colegas que
mantém contato, os chamados bookstagrammers.
Esse nicho é dificílimo e não possue ninguém do
Brasil, até o dado momento, com milhões de seguidores. Traduzindo a falta de um
fomento maior e mais comprometido com a nossa cultura que, ao meu ver, não está
nas mãos só do Estado, está principalmente nas nossas.
Tenho encarado isso como uma responsabilidade
positiva e construtivista de colaboração para um futuro melhor. Dia 25/06
faremos 1 ano de existência lá no Instagram e já possuímos mais de 1k de
seguidores. (@flavalois “Caneta de Águia!”)
Marcello – Você tem também participações em
Coletâneas... Nos fale um pouco sobre essas participações.
Flávia - Participei com o meu Poema “A Mulher de Trinta
Anos” da antologia denominada Poesia Livre 2019 da Editora Vivara. Já fui
aprovada em poemas e contos, também, nos concursos literários da Editora Trevo,
ainda sem publicação. Agora no conto, recente soube da aprovação de “Amor
Líquido e Sombras Elétricas” da coletânea Conte-me um Conto realizada pelo
CNNE-Concurso Nacional Novos Escritores.
Marcello - O que uma crítica literária significa
para o seu trabalho (como escritora e resenhista, por exemplo)?
Flávia - Quando bem construída, uma crítica me faz
entender um pouco mais não só da minha própria escrita, mas também de desenhar,
um pouco, da percepção de vida de quem dedicou um tempo para ler aquilo que
produzi.
Sabe, me faz sentir um pouco mais do mundo do meu
leitor!
Se me der um motivo bom para que eu mesma mude algo
e, dessa forma me reconstrua mais madura e entendedora do que se passa na
cabeça do outro, volto pra casa feliz. Caso contrário, agradeço e, com
humildade sigo em frente, confiante de que as minhas letras podem sim, trazer
alguma espécie de acalanto ou interesse em descoberta ao tocar nos mais
variados tipos de alma. Amo gente e suas complexidades!
Marcello – Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro com os dados de 2016 revelam que o
brasileiro lê em média 2,43 livros por ano. O que você pensa sobre isso?
Flávia - Isso tem que mudar! Arranjam-se tanto tempo
para fazer o mau uso das redes sociais, propagando fofocas / notícias falsas
que as horas voam! Menos de 3 livros por ano é uma média muito baixa. Aí vejo
do tamanho do perigo de se domar uma população incapaz de duvidar, questionar,
debater sem os velhos discursos de ódio e/ou veneração e, sem um estudo prévio
para obter-se qualquer boa análise critica. E isso, a boa mudança, começa pelos
jovens!
Hoje, se você emitir uma simples opinião
discordante, pode ganhar fácil haters! Falta até a inteligência emocional para
saberem lidar com os contrários.
Falhar na educação é continuar no atraso. O Brasil
precisa nessa esfera em específico, dar uma boa corrida! Só assim teremos, quem
sabe... a moral de alguma chance.
Marcello – Como conciliar as letras e as leis
(literatura e a advocacia)?
Flávia - Tem sido um pouco corrido, mas tem dado
certo. A literatura, acredite, é o meu escape nos dias mais cansativos e
tortuosos!
Marcello – Como você avalia o mercado editorial
brasileiro atualmente?
Flávia - Antes da pandemia, já era um mercado que
andava cultivando e comercializando bastante os livros de “entretenimento e
autoajuda.” Não tenho nada contra, porém, os que tem alguma mensagem um pouco
mais crítica, precisavam ser conhecidos pelos jovens, ou melhor, se darem a
conhecer sem aquela velha cara de poucos amigos ou difícil demais para a
digestão (risos).
Livros continuam sendo caros e visto por muitos como
artigo de luxo!
Os mais clássicos e os de literatura regional, ou
continuam caros demais ou sem a devida boa vitrine de comercialização. É nessas
horas que o trabalho dos influencers literários ajuda bastante! Tudo está se renovando
e, essa é a parte boa!
Nós, e me refiro assim porque hoje me considero uma
influencer também, somos os responsáveis por propagar as resenhas do que lemos
na internet. Temos a nossa parcela de ajuda para com as editoras. E, quando
você trabalha nesse meio de forma séria, dar valor a literatura nacional é
primordial.
Editora + Influencers é um casamento que prevejo
está razoavelmente estável, em tempos de crise temporária por conta do Covid-19
mas, o ser humano tem a total capacidade constante de se reinventar ainda mais.
No entanto, o caso das editoras para com as
livrarias é grave. Isso a Saraiva, por exemplo, terá que saber como fazer para
não falir. Digo sentindo e torcendo muito para que não aconteça! Pois a
considero uma das se não a melhor rede de livrarias do Brasil.
As grandes livrarias e editoras estão em um momento
atual muito difícil, mas creio que em 2021 tudo volte ao eixo trabalhoso
anterior a esta crise global, que deverá obrigatoriamente se renovar fazendo
todos passarem a usar o meio virtual. Tanto na venda de livros físicos por
lojas online, como pela divulgação ainda maior dos chamados e-books.
Marcello – Como você analisa a literatura parnaibana
(historicidade e atualidade)
Flávia - Como estou morando em Parnaíba há cinco
anos, tenho me surpreendido de forma bastante positiva. Acho que o Piauí
precisa de uma voz que desague para além do Rio e do seu Delta.
As belas artes aqui encontradas na natureza, poderão
ser levadas para o além mar de outros viventes distantes.
Confio na produção de jovens como Marcello Silva e
Karoline de Carvalho e, tenho vontade de ler todos do Assis Brasil e um, em
específico está na minha lista de desejados. É o romance em que ele fala de
como ler os livros de Faulkner!
Quanta nobreza e elegância em não falar só de si ou
daquilo que criou. Isso me cativa!
As crônicas de Cineas Santos em "Cambalhotas
Para Ninguém" foi o meu livro escolhido no projeto “Te aquieta e lê” da
Secult-PI. E, por fim, ao me aventurar escrever poemas, quero ter ao menos 10%
da braveza e delicadeza de Torquato Neto que tinha em si, a linda missão de
trazer poesia para tudo aquilo que fazia, ou seja, quero tocar em tudo e poder
transformar em literatura!
Marcello - Considerações finais...
Flávia - Amo mandar o que escrevo para o “Escrever
sem Fronteiras do Sesc Piauí!”
É um projeto maravilhoso com uma plataforma super
organizada que nos faz desenterrar nossos textos da gaveta ao verem eles sendo
passados pelas mãos de curadores letrados e, se aprovados, serem com cuidado
bem publicados. A experiência com eles é de um fundamento que logo logo, farei
uma participação online comentando mais sobre, aguardem!
Link da Instagram: Caneta de Águia (@flavalois)
Marcello Silva – Escritor